Permitam-me que dirija umas palavras acerca da "Raça Caxineira", acerca da família Caxineira. Caxinas é um lugar pertencente a Vila do Conde, não é um bairro piscatório como muitas vezes aparece noticiado nos órgãos de comunicação social. Os Caxineiros são Vila-condenses de 1ª, como são os de outros lugares da cidade de Vila do Conde. Não queremos ser tratados como especiais, mas também não somos coitadinhos como muitas vezes parecem querer dizer... Os Caxineiros são pessoas de trabalho árduo, labutam na vida do mar horas a fio, (15,16 18 horas dia), por de trás do aspecto áspero, de um falar duro e rude encontra-se um homem amigo, fiel aos seus amigos, e muito dado a sacrifícios. Numa tese uma professora apresentava o homem das Caxinas como um "Homem de ferro em barcos de pau", nem mais. Os Caxineiros raramente viram a cara á luta, são pessoas capazes de morrer a trabalhar como a história tem ensinado ao longo dos anos. O Homem do mar merece-nos respeito! Uma palavra também às Mulheres das Caxinas. Muitas das vezes obrigadas pela própria vida a fazerem de pai e mãe ao mesmo tempo, como diz o ditado. "Por de trás de um grande homem está uma grande mulher", A todas as mulheres Caxineiras um bem-haja! Os Caxineiros são pessoas de fé, cultivam a fé na sua simplicidade, bairristas na doação aos seus e aos outros. Temos problemas como as outras terras têm também
Nas Caxinas conta-se uma história particular. Neste lugar, zona de pesca e de mar, de rijeza e de humildade, há um povo que lutou pela sobrevivência a bordo de um barco.
Nas Caxinas ouve-se o riso e vê-se a cor. Por todo o lado, apesar das gentes sempre vestidas de preto. Não há família caxineira que não tenha perdido alguém no mar.
Nas Caxinas vive-se com emoção. Com orgulho nas raízes. Com a coragem e a revolta dos dias vividos no limite do medo. Com um dialecto que é único. São “estátuas de bronze a andar”, os Caxineiros da poesia de José Régio. Não se sabe a origem da palavra. Poderá vir do latim “cachinare”, que significa rir às gargalhadas.
Nas Caxinas vive-se em casas de azulejos alegres, com peixe a secar nas cordas a meias com a roupa preta. Faz-se do passeio público um quintal. Passa-se a velhice entre as memórias, as agulhas de tricot, o baralho de cartas e a conversa com quem passa.
A minha Honra, a minha Homenagem aos Homens e Mulheres da minha Terra as Caxinas!
(Para uns vale o Caminho, para outros a "Boa" Viagem...)
“Filho só vai para o Mar quem não sabe fazer mais nada”. Estas foram as palavras que o meu Pai sempre me disse em relação à vida dura que os pescadores têm e uma forma de eu fugir à velha máxima Caxineira, “ou se dá jogador de futebol, ou vai-se para o mar”…
Graças ao meu Pai não querer que eu tivesse a mesma vida que ele, repetindo-me sempre esta frase… ajudou também uma viagem de barco de Matosinhos até Viana do Castelo e logo percebi que aquela frase fazia todo o sentido, não tendo vomitado 12 vezes nessas fatídicas 4 horas de barco.
O Ser jogador de Futebol estava longe, não pelo facto de não saber dar uns chutos na bola, mas maioritariamente por chegar a casa às 7 da manhã, pegar nas chuteiras e ir para o campo jogar, o que me dava a impressão que não seria um bom profissional da bola, logo restava a solução mais obvia para a minha Mãe, que era terminar o 12º Ano e ir trabalhar (naquela altura todo o mundo ia parar à Infinion).
Mas ficar no 12º Ano a fazer matemática e ver todos os meus amigos partirem para a Universidade (namorada também), trouxe-me outra perspectiva que nunca me tinha passado pela cabeça, e se fosse tirar um curso superior?!?!
Lá fiz a candidatura e entrei em Braga no ramo da Economia e que melhor professor de Economia poderia ter tido que não a minha Mãe? Pois uma coisa peculiar que existe aqui nas Caxinas é o facto de as Mulheres Caxineiras serem do melhor em matéria de cuidar da casa e das finanças da mesma, ou seja, por norma o casal ganha o seu salário mas quem administra os mesmo é a mulher (caso contrário gastaria tudo na canastra e no café).
Lembro-me perfeitamente quando disse a minha Mãe que tinha conseguido entrar na faculdade e ela não apreciou muito a ideia e mandou-me ir trabalhar, mas lá lhe expliquei que não ia ser como no secundário (vagabundagem) iria ser atinado e fazer o curso no tempo estipulado e que iria trabalhar para pagar as propinas e o alojamento.
Aqui entra novamente o meu Pai em cena que me diz: “se queres ir para a faculdade vai, eu pago as propinas, pago o alojamento, dou-te uma semanada para “copos”; carro (suzuki vitara a GPL, usado claro) e combustível e agora dá-me uma só razão para chumbares a uma só cadeira?”
O meu Pai como estava ausente nunca se intrometia nestas “coisas” pois era assunto para a Mulher Caxineira tratar, mas quando intervir, era assertivo e tirava-me qualquer tipo de argumentos que eu pudesse arranjar. Com tudo pago, se eu chumbasse como me iria justificar, dado todo o sacrifício do Homem estar no alto mar por 10 meses? Simples não Havia Justificação e o Curso era para ser feito nos 4 anos.
Em Braga fui viver com um dos meus melhores amigos que sempre me acompanhou desde a 1º classe e com outro amigo que me acompanhou no secundário e lembro-me que no primeiro mês das supostas aulas não houve nada, pois só via os meus colegas de curso a serem praxados e ninguém aparecia nas aulas, e lá andava eu a passarinhar a ver todo o mundo com “cornadura no chão” pois parecia ser as palavras de ordem dos dias…
Lembro-me que na primeira aula que assisti quase no final da mesma, recebi um bilhete de uns “pseudo doutores” ou melhor dos pinguins trajados a me dizer que se não aparecesse na praxe estava F%&$… Sendo que no final da aula lá me dirigi aos pinguins e perguntei quem tinha escrito o bilhete, ao qual um arrogantemente me disse que tinha sido ele… Ao qual eu respondi que ele não me conhecia de lado nenhum, não “andou comigo na escola” para me ameaçar seja de que forma fosse, e se abrisse a boca mais uma vez lhe partiria os dentes… Ao qual me perguntaram de onde eu era… Ao qual respondi. “Das Caxinas”. Ao qual nunca mais me chatearam a cabeça com praxes e coisas a fim.
Aprendi que os meus professores percebiam menos de economia que a minha Mãe, muita teoria e prática Zero.
Aprendi que estar a 50Km do cheiro a maresia me fazia confusão, e todas as sextas quando regressava de Braga, saía na Póvoa de Varzim para "passear de carro á beira mar".
Aprendi que não podemos ter argumentos para falhar, pois se o meu Pai não tivesse dito e feito o que fez para eu ir para a faculdade, ainda hoje estaria a tirar o curso.
Aprendi que existem burros com canudo e burros sem ele, ou seja, um canudo não é sinal de inteligência.
Aprendi que existem pessoas ávidas por poder e por serem tratadas por Doutor(a) só porque têm uma licenciatura.
Aprendi que dizer que sou das Caxinas dá um jeitão, pois a fama de outrora de que somos “uma Raça Suis Géneris” ainda se mantinha.
O que espero? Que a minha pequenada consiga dar um impulso a esta Raça e a este Crer que é o Ser Caxineiro Vilacondense!
A Edite do Blog a vida em modo de livre fez-me umas pequenas questões às quais eu respondi com enormes respostas, não no seu conteúdo mas sim mesmo em tamanho, eu pedi a ela para fazer uma "triologia" com as perguntas, lançando tipo 2 por post, sempre dava para uns 3 dias de blog.
Foram perguntas interessantes e de difícil resposta, mas lá me amanhei mais ou menos bem... acho eu...
Por isso se querem saber mais sobre mim, passem, visitem, comentem a "entrevista" (no post da Edite para ser ela a responder e não eu).
"Ele é 8 ou 80, é Caxineiro e é do Norte. O Narciso Santos tem os blogues Mishmash Marketing e o cisosemjuizo, e neles escreve sobre marketing e sobre diferentes temas, espraiando pela blogosfera um mar de ideias, geniais ou loucas, conforme a perspetiva de cada um, mais ou menos como demonstra a fotografia acima . Mas vamos lá conhecer um pouco mais..."