Memórias de um Caxineiro - Parte 2
… Nunca se esqueçam que Os Caxineiros são Vila-condenses de 1ª, como são os de outros lugares da cidade de Vila do Conde.
Mas o que é certo é que nunca me senti um Vileiro, nem um Poveiro!
Como tudo na vida o tempo passa, e um tipo vai crescendo e termino a 4º classe, despeço-me da escola primária das Caxinas e passo para a 5º classe para o “Ciclo”, Escola Frei João. Esta escola já era naquela altura outro nível, era como se passasse-mos de jogar nos Regionais para uma primeira divisão, sendo que a “liga dos campeões” aguardava do outro lado da rua, na “Técnica” - José Régio!
Logo na passagem para a escola preparatória perco mais de metade dos meus amigos da primária, e vou para uma turma com quase todos desconhecidos, também é aqui que começa a mistura de culturas, entre os Caxineiros e os Vilacondense oriundos das freguesias de Vila do Conde.
Sei que me sentia um pouco enjaulado, por as grades que cobriam a escola de forma a não podermos sair, Salgado sempre atrás de nós (com a sua frase, “levas um…”), os tempos de ter aulas somente de manhã terminam e passo a ter umas 12 disciplinas por ano, ou seja, fico completamente prisioneiro e refém da escola, pois era um “trabalho autêntico” entrava as 8:00 saía as 18:30.
Nem tudo era mau, os pacotes de leite da agros achocolatados ainda continuavam a ser distribuídos de manhã e de tarde, aprendi a fazer novos amigos fora da minha redoma das Caxinas e aprender a viver na diversidade, também comecei a perceber a estratificação da sociedade onde afinal não éramos todos feitos de “água, sal e areia”, uns tinham além disto, tinham “uns crocodilos” “um tipo em cima de um cavalo” e uns outros dizeres…
O Caxineiro tendo como atributos o ser: valente, poeta e filósofo, melancólico e sonhador, muito religioso, fraterno e generoso, tempestivo no momento de fúria, mas cordeiro e humano, honrado e supersticioso, bom chefe de família e trabalhador, já não chegava, pois as marcas falavam um outro idioma, além do nosso linguarejar próprio, que tanto nos orgulha, o nosso sotaque… sim o “Novo-riquismo” tinha chegado…
Lembro-me perfeitamente da lojinha em frente a Frei João que vendida os gelados de gelo a 25 escudos, os famosos Fãs e as broínhas de mel por 20 “paus”… Dizia a minha mãe que iria comer na cantina da escola mas em vez disso, saltava as grades e lá ia comer a lojinha, pois Caxineiro que se preze não come na cantina, mas sim broínha, sandes, batatas fritas e a famosa gasosa na lojinha.
As minhas professoras coitadas, muitos cabelos brancos, azuis, verdes devem ter ganho, pois era tanto o disparate efectuado dentro da sala de aula…
Apartir do 6º ano, começa aqui a grande diferença na escola, pois a maior parte dos meus amigos abandona a escola, a razia de más notas era evidente, os “não satisfaz” eram banais, pois parecia que que a praia e o mar nos chamavam continuamente…
Mas como qualquer criança, o meu objectivo era ser “Grande” querer ir para junto dos adultos, querer ir para a tão aclamada “técnica” e peço transferência no final do 7º ano para ir para junto dos “grandes” dos adultos…
TO BE CONTINUED…
Porque raio quando somos pequenos queremos crescer rápido? E quando somos grandes queremos voltar a ser pequenos? Simplesmente não sabemos desfrutar de cada etapa que a vida nos proporciona com o tempo que nos é permitido e sem correrias…