Burocracias
É usual acontecer... acontece demasiadas vezes... É quase certo. Vamos às finanças, à Segurança Social, vamos ao médico, a cena repete-se; quem nos atende tem mais problemas para resolver do que nós e mais pressa ainda. É sempre o mesmo tom rude no seu discurso:
- Sim? Não, não. Volte depois. Pois, também não sei.
Não sabe? Como não sabe? Devia saber informar onde devo ir, a quem me dirijo depois. Mas não, naquela secção não é e pronto. Não existe um sorriso, um:
- Posso ajudar?
Não há soluções só a burocracia de papéis para preencher. O meu grande azar é o anonimato. Não ter conhecimentos. Não dar presentes ao Sr. Doutor. Dar presentes? Ele nem devia dar consultas!
Durante todo o tempo da consulta, não olhou para mim sequer. Mas diagnosticou-me logo um eczema no ouvido médio. Fantástico! Num minuto só, descobriu-se o mal que me atormenta e nenhum exame definiu. Até é um nome giro, é caricato. Tenho um eczema, e não sabia! Porém não me passou receita:
- Ou tome benuron e intercale com brufem de 4 em 4 horas;
- Ou não há nada a fazer. Azar, a vida é assim. Próximo.
Mas como se ele nem viu o meu ouvido? Será que é bruxo? Se eu quiser também possuo o dom da vidência repentina e posso desde já assegurar que a maior parte dos médicos actuais sofrem de uma doença grave que afecta a função pública, chamam-lhe Síndrome da Antipatia. Manifesta-se de forma gradual, normalmente quem não gosta do que faz está infectado. Os sintomas são a falta de alegria, cansaço, falta de gosto. O órgão afectado é o coração que minga, atrofia e fica em pedra. Talvez a cura deste mal resida numa simples norma; tratar os outros melhor do que nos tratam a nós. Tratar o próximo com mais candura, mais empenho, eficácia e paciência. Lidar com pessoas nem sempre é fácil, sei o que digo, mas um sorriso só, às vezes cura e resolve tudo.